Ensaio sobre a pieira


Gosto bastante do anticlericalismo em geral e do em particular também, depende, neste, das medidas de cintura e anca.

Uma das características interessantes do anticlericalismo de pendor ateu (também o há de pendor católico no qual eu tenho o prazer de participar) ou mero pendor parvo é que se organiza essencialmente numa forma de raiva elaborada sobre uma merda chamada fé que se concretiza numa merda chamada crentes.

O anticlericalismo parvo (para sintetizar conceitos) mais moderno revelou-se recentemente nas reacções às personalidades e posições de Bento XVI (agora é que vocês vão ver seus católicos laxistas e prevaricadores) e agora às de Francisco I (agora é que vocês vão ver seus católicos conservadores e hipócritas)

Em geral, o anti-clericalista parvo possui um pensamento da família da respiração com falhas. Arranha um pouco mas não chega a faltar o ar. A blogaria sempre foi fecunda em manifestações desta categoria mas, mais recentemente, certos fenómenos emergentes como o das ideologias de género militantes (os genercologistas), ou até a crise das esquerdas (não riam, vá, é a escardalhose) introduziram toda uma dinâmica de flatulência mental que só não cheira porque quando chega está à beirinha do intestino o duodeno remete para a procedência (daí a pieira mental)

Uma das mais charmosas insinuações do anti-clericalismo parvo é que a crença produz uma gaiola moral (‘my body is a cage’, como se sabe) na natureza, que nos torna (aos crentes) irracionais, intolerantes & absurdos (a ordem é arbitrária), algo que deve ser descodificado diária e sistematicamente, e ilustrado, de preferência, com as horríveis contradições do clero, desde a carmelita lésbica ao cardeal panasca passando pelo ermita insensível à violência doméstica.

Como se sabe, no tempo em que os leões papavam apóstolos o anticlericalismo era uma coisa séria e motivada por genuínos valores de cidadania como a ambição, o deboche, o poder e a ordem, mas hoje o anticlericalismo parvo não passa duma pieira neuronal, assim algo entre a gosma e o gargarejo.

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Carl Rosenberg Smith era caracterizador de personagens ficcio-mitológicas desde que tinha sofrido um derrame cerebral em 1997, na sequência da queda de um pónei na feira popular. A sua primeira invenção de sucesso foi o zombie, da qual tem tirado imenso proveito, inclusive lhe permitiu comprar uma vivenda na Verdizela, sonho de criança - quando ia para lá apanhar pinhas para as sardinhadas que o seu pai fazia com os tios. Tendo passado ao lado dos lobisomens, apanhou novamente o comboio com os vampiros, que lhe permitiram comprar um barco de 20 metros, pena é que as finanças o tenham confiscado aquando do célebre irs de 2004, quando perdeu os papeis à porta dum bordel de luxo ali para as lados de são João do Estoril, estupefacto com Zeneida Gonçalves, que acabara de entrar na vivenda com um vestido azul que ele lhe tinha dado, mas abraçada a Gustavo Gomes, um concorrente seu e inventor dos wargs, personagem também de algum sucesso, que este vendera para o game of thrones, tendo recebido em pagamento o Z3 em que james bond dera algumas quecas de recurso, mas nada, nada mesmo, parecido com a nova coqueluche de Carl Smith: Koli – homem anjo. Os Koli’s caracterizam-se por passarem de homem a anjo depois de comerem umas bagas alegadamente venenosas que existem junto à pateira de sangalhos e que rapidamente os tornam em seres espirituais, imunes às arreliantes limitações de espaço, tempo e respectivos spreads. A invenção dos Kolis’s rapidamente correu por toda a indústria dos seriados e tornou-se cobiçada pelos principais canais. No entanto, desta feita, Carl Smith não estava disposto a abdicar da sua invenção por meia dúzia de patacos e quis ficar com uma palavra a dizer sobre os enredos, tanto mais que havia uma personagem que inventara no início da sua carreira e que nunca conseguira colocar - não por falta de mérito, registe-se - tratava-se de Lenar – a mulher-trufa. Aparentemente apenas destinada a filmes de animação, Lenar podia ter agora o seu momento, colada ao êxito de Koli. E assim foi, e de tal maneira que Lenar acabou por se assumir como uma personagem chave - uma mulher que conseguia ser imune a vampiros, zombies & lobisomens – que acabou a fazer uma perninha em todas as séries existentes, uma espécie de tipo O das personagens de mito-ficção, compatível com toda a malandragem desde mundo tão cruel e competitivo. Carl Smith ganhou assim a sua independência e comprou uma churrascaria no Turcifal, agora famosa pelo seu típico franguinho à koli, um frango no espeto recheado com um creme à base das bagas da pateira de sangalhos que, afinal, se veio a verificar, só eram venenosas às sextas-feiras dos meses ímpares. Era isto.