Murmurando entendimento V – os princípios de Dona Confiança


A Família Confiança era uma família muito pura. Mesmo daquela pureza que já não se fabrica e só se encontra ou em alfarrabistas de p’reza ou em boutiques de produtos tradicionais. Está inclusivamente em fase de lançamento uma cadeia de lojas: ‘Confiança Portuguesa’. Não vai vender galos de barcelos, nem latas de sardinha, nem pães de deus, nem mesmo rendas da madeiras, mas antes uns pacotes com um sortido de confiança composto por: 1 Constituição encadernada em lombada francesa, um cartão da adse, um cartão de eleitor, um cartão de descontos do pingo doce, e uma ficha de inscrição no acp.

Mas voltemos à família Confiança, mais especificamente à menina Confiança. Nasceu ali à rua do Arsenal, entre duas lojas de bacalhau, bem pertinho donde enfiaram uns tiros no bom do dom Carlos e seu primogénito amado, e bem cedo se revelou uma moça que nunca quebrava as expectativas de ninguém.

O seu primeiro namorado, César Camacho, a primeira vez que lhe tentou dar um beijo levou com uma chave de fendas no olho esquerdo e ainda hoje vende as melhores castanhas assadas do País à porta do cemitério da Ajuda. Luís Gonçalves, o segundo, ainda ia com a sua mão direita a pouco mais de 3 cm acima do joelho de Confiança quando esta lhe enfia com uma faca de barrar manteiga pelo ouvido esquerdo, deixando-o numa espécie de permanente otite com pernas. Já tendo cristalizado a sua imagem de amante cruel, permitiu a primeira cópula digna desse nome a Gustavo Meirim, não deixando de posteriormente o humilhar publicamente revelando detalhes não dignificantes e ainda menos glorificantes, como sejam, um testículo ligeiramente pontiagudo que incomodamente a distraia no momento de gratificação. Gustava apenas conseguiu ter uma nova erecção já com 73 anos depois de uma dose de viagra intravenoso que lhe foi administrado a troco de um comodato de duas propriedades rústicas no sobral de monte agraço.

Menina Confiança, entretanto Dona Confiança, tinha assim bem sedimentada a fama de que quem lhe tocasse nunca mais se esqueceria. Sou uma mulher de princípios, dizia de forma quase solene, o meu corpo é como se fosse um artigo constitucional.

É evidente que este comportamento de Confiança (Fia, para os amigos que, obviamente, não tinha) tanto afastava clientela como atraia outra mais afoita. Foi assim que um belo dia, dois amigos, Pedro e Paulo, decidiram fazer uma aposta: qual deles a conseguiria conquistar sem que levasse mazelas significativas para casa.

Primeiro foi lá Paulo. Levava um relógio em contagem decrescente (quanto tempo faltava até que conseguisse molhar a sopa) e apresentou-se insinuando que tinha um dedinho maroto que fazia milagres, inclusivamente já conseguira transformar um protectorado numa casa de fado. Confiança olhou para ele com desdém e perguntou-lhe logo se o dedinho não lhe cabia no cuzinho. Espantado com a franqueza, Paulo decidiu que ainda tinha de tomar um bocado mais de balanço e, com o dedinho entre as pernas, foi fazer antes uma reforma de estado.

Pedro observou a cena à distância com uma certa apreensão, mas pensava ter uma arma secreta: a sua franja arrebatadora. Quando chegou à fala com Confiança todo ele eram falinhas mansas e não tardou a conseguir um tete a tete. Não prometia nada, sabia de antemão que ela tinha umas fornicatio legis muito restritivas mas ele estava disposto a todos os sacrifícios para cumprir (‘foder com jeitinho’ era a frase inspiradora que usava de si para si)

Dona Confiança pareceu claudicar com a primeira abordagem. Era um rapaz de indole respeitadora, as suas intenções apresentavam-se como das melhores, nem no inferno se encontrariam daquelas certamente. Nas primeiras horas a estratégia de Pedro começou a dar resultado, e um redondo e prolongado beijo parecia ir selar um compromisso entre Pedro e Confiança, com esta a permitir avanços pela sua constitucionalidade dignos dum coup d’état - olha para as minhas maminhas como se elas fossem duas bastilhas, chegou mesmo a sussurrar-lhe ao ouvido, enquanto Pedro já se via a mascar bastilhas.
Mas como qualquer macho, com ou sem franja, com ou sem agenda libertina, Pedro sabia que teria de ir testando passo a passo Confiança para ver até onde poderia ir - se me deres a tua betesga eu serei o teu rossio, foi a vez dele sussurrar. Pensava ele que depois da sua mão já ter poisado por terrenos de reserva natural, poderia doravante urbanizar e em propriedade horizontal por qualquer lado sem precisar de comprar maiorias na vereação. Quando a coxa já é um direito adquirido por que carga d’água terá um homem de recuar para o joelho, perguntava-se.
Mas Dona Confiança era muito zelosa dos seus princípios e estava convicta de que tinha adquirido um estatuto de inviolável que não poderia perder por qualquer franja por mais voluptuosa que ela fosse.
E assim, estava já Pedro a alçar a perna para um movimento mais acrobático quando Confiança se lhe escapa por entre os rins e decide ir acertar linha das sobrancelhas e pintar as unhas de outra cor, fazendo-o estatelar-se no arraiolos que nem um Junot de porcelana.

Será desprezo genuíno, será jogo, será apenas prudência, será capricho, ruminava Pedro por entre os ossos doridos a fazer de escombros. Mas Dona Confiança já estava noutra, remoçada e de peitos ao nível do entrecot, deixou Pedro a lamuriar-se com Paulo que entretanto já declarava aos quatro ventos que ela afinal nem era grande coisa e que mais valia uma pila na mão que duas vulvas a voar, ou melhor, um imposto novo na mão que duas constituições velhas a voar.

Murmurando entendimento IV – madibando-se para isto tudo


Cristina Lagarde veio reconhecer que tinha sido contratada para fazer uma fmímica gestual mas que entretanto começou a ter visões e baralhou-se toda. Não teve coragem para parar e seguiu fazendo as suas pantominas em forma de resgate porque não queria atrapalhar as cerimónias fúnebres.

Murmurando entendimento III – do cabaré para o convento, ida e volta


Simão Bivalves sempre fora um reformista da primeira hora. Vivera torturado pelos desmandos e manobras daquele que ficaria sorbonianamente especializado em tortura, e encontrara em Passos Coelho uma espécie de vamos-lá-ver-se-dá, tipo chave de fendas em promoção. Habituado a escarnecer e a elogiar, com uma discricionariedade da família dos pequenos caprichos, Simão punha-se agora a jeito para servir de mais um alibi ideológico a uma bateria de testes chamada pomposamente governo de salvação com troika em opção.

Pau para toda a colher, arrastou-se de gabinetes em gabinetes, tentando vender-se como eminência parda mas pago a preço de conselheiro laranja. Andou próximo do poder e sentiu-se recompensado por aquela sensação pirilâmpica de quem está tão próximo da luz que se julga ser interruptor.

Emprestou a alta verve, a média cultura e a baixa vergonha ao serviço do desdém olímpico e da cumplicidade banana, contradisse tudo o que já tinha dito com a limpeza típica das superioridades de ocasião, e ganhou referências que nunca sonhara sequer ter que suportar num grupo de sueca de reformados.

Inchou com o vento que teve à mão e desinchou com as picadelas dos ouriços do poder, esbracejando que não se pode ser maquiavel com medicis estragados.

Simão Bivalves dedica-se agora a mostrar que afinal sempre foi um espirito livre. Da mesma fora que nada prende o diáfano flato ao espasmódico colón.

Murmurando entendimento II – pib com laranja


Como o nosso PIB ainda está muito cru para enfrentar novamente a vida lá fora, há que o preparar.

Num almofariz coloque as reformas do estado, o crescimento e a competitividade.

Esmague até que fique uma pasta.

Num tabuleiro de ir à troika tempere o PIB por igual com as reformas de estado esmagadas.

Junte no tabuleiro 2 folhas de orçamento de estado, 3 manifestações de polícias, 4 exames de professores e o sumo de laranja.

Por fim coloque a manteiga.

Leve ao Bundesbank pré-aquecido e deixe assar aproximadamente ano e meio.

Entretanto, num tacho, leve à comissão europeia o restante caldo, o deficit público, a manteiga e os miúdos (as gerações mais novas).

Tempere um pouco com demagogia e corrupção.

Deixe cozer entre 4 a 5 meses, até as novas gerações ficarem tenrinhas.

Passado um ano do PIB estar no bundesbank vire-o de forma a que fique com as exportações para cima.

Depois das novas gerações estarem fodidas, perdão, cozidas, retire-as com um escorredor (qualquer instituto público serve) para um centro de emprego raso.

Ao caldo que sobrou junte água suficiente para afogar dois quarteis de bombeiros.

Deixe foder, perdão, ferver. Depois de ferver junte os reformados, mexa e aguente duas ou três inconstitucionalidades.

Entretanto, corte os miúdos (novas gerações) e desfie a parte do consumo privado do PIB. Não se esqueça de limpar bem a TSU.

Depois dos reformados fodidos, perdão, cozidos, junte os miúdos e misture.

Coloque tudo num tabuleiro de ir ao Bundesbank e espalhe. Por cima coloque uma rodelas de funcionários públicos.

Depois do PIB assado, retire-o.

Aumente a temperatura do Bundesbank para o máximo e coloque os reformados, os funcionários públicos e os desempregados a tostar. Passados dois meses retire.

Sirva o PIB em pedaços, acompanhado com os desempregados e rodelas de laranja.

Está pronto para servir aos mercados.

Murmurando entendimento I


Aparentemente «a troika reconhece erros mas são para manter» o que me parece uma atitude bastante acertada. Julgo até que da nossa brilhante história o ‘erro da troika’ é dos erros melhorzinhos que nós temos feito e para além disso tem a virtude de podermos dizer que não fomos nós, foram os outros meninos. Se considerarmos erros como por exemplo o terramoto de lisboa, a presidência de godinho lopes, a morte de dom Carlos, a aventura de alcácer quibir e a exportação da orsi feher , o memorandum e respectivos folhos foram dos melhores figurinos com que nos equipámos. Vamos-mos lá entender:  nós evoluímos na cadeia alimentar das crises, pois deixámos de ser um país com crise para sermos uma crise com país.

Como já vi escrito em qualquer lado: nós não somos os herdeiros dos que foram à Índia, nós somos herdeiros dos que ficaram.

Imaculado Campeão


Como é do conhecimento geral o campeonato de futebol que realmente interessa acabou ontem, no dia da Imaculada, e o Sporting sagrou-se campeão. Reparemos que não se usa por aqui o simples e matafísico verbo ser mas antes um verbo mais digno e adaptado às circunstâncias transcendentais da coisa: sagrar. A lagartada campeã (não é ir à frente, é campeão mesmo, qualquer pessoa decente reconhece que o verdadeiro campeonato acabou ontem) é o sinal que os deuses nos estão a dar num dia em que se celebrou a natureza virginal da concepção do messias. Também os lagartos, sem que nada o previsse, contra todas as regras da natureza, todas as causalidades, revelam-se líderes ao mundo. Limpos, serenos, sabendo compreender e até perdoar, quem quiser misericórdia pode assim aproximar-se que lhe será concedida, políticos e lampiões inclusive. Tal como a Virgem sem saber ler nem escrever se apanhou naqueles preparos, assim o nosso Leonardo nos coloca a todos prenhes, eu inclusive afago hoje a minha barriguita com uma sensação de campeão que já não sentia desde os babilónicos tempos de cativeiro. Que Nossa Senhora me perdoe a heterodoxia, mas o meu messias baby agora tem a cara de Montero e não há pastorinho bronzeado pelo sol da galileia que não se pareça com o William Carvalho, árvore esta que, sabe-se, veio redimir todas as figueiras devidamente amaldiçoadas.

Conto do estar para aqui




Calixto Semedo desistira de observar baleias desde que encontrara Luísa Ventura a tomar chá em Porto Formoso. Arreliada com a sua sorte Luísa fora desopilar ao sabor de chá verde com jasmim e quando viu que Calixto também para ali estava a pedir um desconto de tempo ao destino resolveu abordá-lo. Estar para ali é diferente de simplesmente estar ali e Luísa tinha esse marcador na gema, pois descobria sempre os que estão para ali por entre os que se limitam a estar ali, seja ali onde for.

Calisto estivera a observar baleias na Caloura toda a manhã e tirando ter sido atropelado por uma vaca sem nome nem badalo, nada a sorte lhe tinha colocado na ponta dos binóculos. Sem tendência para as costumeiras neuras insulares pegou na trouxa, respirou fundo três vezes testando o bom tempo nos canais e foi tomar um chá que lhe diluísse o que sobejara da bucha.

Pelo caminho rezou três avé marias com um olho no promontório e outro numa ciclista irlandesa que descia a ladeira sem travões na roda da saia que assim descobria uma bênção duplamente arredondada sur selle en cuir, respirou outra vez fundo sem especiais reacções expectorantes e alheado de restrições ditadas pela deontologia dos vigias, esticou distraidamente a vista para um mar livre de cetáceos, preparando-se para trocar os binóculos por uma chávena de folha fervida.

Quando Luísa lhe deu o primeiro beijo arrepiando um caminho que levara séculos a esbater por entre náufragos, vulcões e laranjas, Calixto despertou do seu estar para ali e passou a estar mesmo ali - mas ficou logo num ali que faz favor. Luisa, ex-vereadora sem pelouro, experimentada em manter assuntos pendentes em estado de graça, agora em fase de confronto com a realidade, perguntou-lhe se entre as mamas dela – ‘estas bolinhas aqui, mas não para aqui’, foi em rigor a expressão - e um mar em estado bulímico onde é que ele mais gostaria de procurar segredos da mãe natureza. Avesso aos mais ténues sinais de paganismo Calixto retirou os sentidos do Atlântico e desfazendo-se de todas os catarros submeteu-se aos desígnios dos deuses que escolheram a carne como porto de abrigo.

Entre folhas de chá e um ou outro delicado movimento de mãos & lábios, Calixto e Luísa, Semedo e Ventura, respectivamente, decidiram que já estavam criadas as condições para abordarem uma lagoa de médio porte e decidiram enfrentar os auspícios do Congro, num fim de tarde inesperadamente bem servido pelo sol em formato raio.

Depois de dois ou três esboços de relacionamento de índole flesh & juice, sem que nada o estivesse a prever, Calixto começou a sentir a nostalgia do cetáceo: um ardor na garganta, uma tosse seca mas contínua, uma respiração ofegante que lhe arranhava intermitentemente a entranhas superiores. Luisa, ainda possuída pelo lastro da carne, pensou que se tratava dalguma alergia momentânea, resultado de vapores sulfurosos menos tolerados por um habitante de promontórios e postos de vigia. Mas nada a fazer, Calixto estava para ali de rastos.

Subiram lentamente de mão dada pelo trilho até à estrada, Luisa ainda tentou dois ou três afagos no sentido de lhe acalmar as ‘inges (far & lar), mas nada, era certo que enquanto Calixto não avistasse um cachalote aquela sensação não lhe passaria, nem mesmo quando Luisa, numa encantadora, arrebatadora, manifestação de carinho, lhe lembrou que as suas coxas também eram rechonchudas, roliças, bojudas, nem mesmo assim Calixto retomou uma respiração limpa e desfricionada.

Já estava a escurecer quando chegaram ao alto da Caloura. Calixto apresentava um estado lastimável, com uma respiração rosnada e um olhar de carneiro bem morto. Luisa sentia-se para ali impotente, se pudesse transformava-se em broncodilatador mas Calixto apenas lhe dizia deixa-me para aqui com as minhas baleias, embebido na mística do incompreendido, incapaz.

E Luísa, que também tinha mais que fazer, deixou-o para ali.

Ensaio sobre a pieira


Gosto bastante do anticlericalismo em geral e do em particular também, depende, neste, das medidas de cintura e anca.

Uma das características interessantes do anticlericalismo de pendor ateu (também o há de pendor católico no qual eu tenho o prazer de participar) ou mero pendor parvo é que se organiza essencialmente numa forma de raiva elaborada sobre uma merda chamada fé que se concretiza numa merda chamada crentes.

O anticlericalismo parvo (para sintetizar conceitos) mais moderno revelou-se recentemente nas reacções às personalidades e posições de Bento XVI (agora é que vocês vão ver seus católicos laxistas e prevaricadores) e agora às de Francisco I (agora é que vocês vão ver seus católicos conservadores e hipócritas)

Em geral, o anti-clericalista parvo possui um pensamento da família da respiração com falhas. Arranha um pouco mas não chega a faltar o ar. A blogaria sempre foi fecunda em manifestações desta categoria mas, mais recentemente, certos fenómenos emergentes como o das ideologias de género militantes (os genercologistas), ou até a crise das esquerdas (não riam, vá, é a escardalhose) introduziram toda uma dinâmica de flatulência mental que só não cheira porque quando chega está à beirinha do intestino o duodeno remete para a procedência (daí a pieira mental)

Uma das mais charmosas insinuações do anti-clericalismo parvo é que a crença produz uma gaiola moral (‘my body is a cage’, como se sabe) na natureza, que nos torna (aos crentes) irracionais, intolerantes & absurdos (a ordem é arbitrária), algo que deve ser descodificado diária e sistematicamente, e ilustrado, de preferência, com as horríveis contradições do clero, desde a carmelita lésbica ao cardeal panasca passando pelo ermita insensível à violência doméstica.

Como se sabe, no tempo em que os leões papavam apóstolos o anticlericalismo era uma coisa séria e motivada por genuínos valores de cidadania como a ambição, o deboche, o poder e a ordem, mas hoje o anticlericalismo parvo não passa duma pieira neuronal, assim algo entre a gosma e o gargarejo.

DesmakerTv


Carl Rosenberg Smith era caracterizador de personagens ficcio-mitológicas desde que tinha sofrido um derrame cerebral em 1997, na sequência da queda de um pónei na feira popular. A sua primeira invenção de sucesso foi o zombie, da qual tem tirado imenso proveito, inclusive lhe permitiu comprar uma vivenda na Verdizela, sonho de criança - quando ia para lá apanhar pinhas para as sardinhadas que o seu pai fazia com os tios. Tendo passado ao lado dos lobisomens, apanhou novamente o comboio com os vampiros, que lhe permitiram comprar um barco de 20 metros, pena é que as finanças o tenham confiscado aquando do célebre irs de 2004, quando perdeu os papeis à porta dum bordel de luxo ali para as lados de são João do Estoril, estupefacto com Zeneida Gonçalves, que acabara de entrar na vivenda com um vestido azul que ele lhe tinha dado, mas abraçada a Gustavo Gomes, um concorrente seu e inventor dos wargs, personagem também de algum sucesso, que este vendera para o game of thrones, tendo recebido em pagamento o Z3 em que james bond dera algumas quecas de recurso, mas nada, nada mesmo, parecido com a nova coqueluche de Carl Smith: Koli – homem anjo. Os Koli’s caracterizam-se por passarem de homem a anjo depois de comerem umas bagas alegadamente venenosas que existem junto à pateira de sangalhos e que rapidamente os tornam em seres espirituais, imunes às arreliantes limitações de espaço, tempo e respectivos spreads. A invenção dos Kolis’s rapidamente correu por toda a indústria dos seriados e tornou-se cobiçada pelos principais canais. No entanto, desta feita, Carl Smith não estava disposto a abdicar da sua invenção por meia dúzia de patacos e quis ficar com uma palavra a dizer sobre os enredos, tanto mais que havia uma personagem que inventara no início da sua carreira e que nunca conseguira colocar - não por falta de mérito, registe-se - tratava-se de Lenar – a mulher-trufa. Aparentemente apenas destinada a filmes de animação, Lenar podia ter agora o seu momento, colada ao êxito de Koli. E assim foi, e de tal maneira que Lenar acabou por se assumir como uma personagem chave - uma mulher que conseguia ser imune a vampiros, zombies & lobisomens – que acabou a fazer uma perninha em todas as séries existentes, uma espécie de tipo O das personagens de mito-ficção, compatível com toda a malandragem desde mundo tão cruel e competitivo. Carl Smith ganhou assim a sua independência e comprou uma churrascaria no Turcifal, agora famosa pelo seu típico franguinho à koli, um frango no espeto recheado com um creme à base das bagas da pateira de sangalhos que, afinal, se veio a verificar, só eram venenosas às sextas-feiras dos meses ímpares. Era isto.

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Certo dia, enquanto de refrescava no golfo de tarento, veio ao salão encefálico de Hipaso de Metaponto a ideia de que todos os verdadeiros problemas apareciam quando se queria produzir qualquer coisa a dois. Um era bom, três era a conta que deus fez, mas dois era aquele número que trazia a maior das complicações. Só que era inexorável: o dois existia realmente, não se podia fugir a essa realidade. Como seria então possível construir um dois por forma a que ele não desse tantos problemas. Agarrou-se então à geometria. Juntou uns pauzinhos em mogno do Quénia, comeu duas romãs e três figos, e foi beber uns copos com o seu mestre Pitágoras que andava deprimido por causa de um cateto que lhe tinha entrado para a vista tentando convencê-lo que a solução estava na raiz quadrada do dois. Impossível, disse-lhe o mestre, nem mates a cabeça, não existe tal número, se alguma gaja te pôs os palitos desenrasca-te por outro lado, não esperes que a matemática te safe. Mas Hipaso não se ficou, meteu-se mesmo a caminho da raiz quadrada de dois, o tal número que a acasalar consigo próprio produziria o dois, numa espécie de clonagem avant la lettre, sem somas, sem merdas de complementaridades, nem unhas com carnes, apenas carnes com carnes.

Comia ele uns camarões panados à beira mar quando o tal número mítico lhe apareceu através da observação do triângulo pélvico de Isadocleia, uma moça que apresentava dotes académicos e anatómicos que o punham permanentemente em estado de hipertenusa.   

Mal sabia Hipaso que Pitagoras também andava de olho em Isadocleia, inclusivamente ela já teria posado para meia dúzia de teoremas seus, e este levou bastante a mal quando soube não só da descoberta de Hipaso, mas também que este a fizera não através da nobre arte da observação de aves, mas antes da passarinha de Isadocleia.

Descoberto o assombrado número, Hipaso, talvez ainda deslumbrado, começou por não saber bem o que fazer com ele. Por um lado tinha-se apaixonado por Isadocleia, havia ali um dois em perspetiva obtido pelo método clássico um mais um, mas por outro lado ele intuía que seria tudo mais perfeito se chegassem ao dois através da respectiva raiz quadrada, um número pelo qual se tinha obviamente apaixonado e ao qual, pensava, iria também conseguir atrair Isadocleia, indo assim ambos construir o dois mas em ambiente de potência mística. Esta hesitava e não queria ir pedir opinião a Pitágoras, a quem, inclusive, já tinha ouvido dizer: ‘quero que ele meta a raiz quadrada do dois no olho do seu singular cu’, frase que acabou por fazer escola no bas-fond da matemática como o ‘teorema da sodoismia’, que enunciava ser a raiz quadrada de dois tão chata e comprida que quando estava quase para parir o dois acabava por recuar e apenas resultar num 1,999, também conhecido como o ‘broche de dois’.

Enfim, abreviando, via-se que isto não iria acabar bem e Isadocleia pôs mesmo um par de palitos a Hipaso que se suicidou enfiando um pi nos cornos.

Excerto da Introdução à tese de mestrado sobre ‘Os números irracionais e as vulvas em desenvolvimento’, a defender no carnaval de 2014 em Sciences Po

Chaos isn’t a pit, chaos is a ladder.
Mindinho

A arca de Nelo #3


Quando Nelo, ex-nelo agora já Nelão Duarte, desembarcou ali na zona do cais do Sodré, decidiu subir a rua do alecrim para ver como paravam as modas no império. Deixou na barca a maior parte das parelhas e fez-se à calçada apenas com Sócrates que, tal como a sua amiga do peito nelinha moura guedes, estava desejoso de testar a popularidade, mas ninguém o convidara para apresentar concursos pelo que vivia torturado.

Chegados à zona da rua das flores e ainda sem tragédia à vista Nelo perguntou-se porque se viam tantos paneleiros num país que precisava de aumentar a sua natalidade. Ninguém lhe respondeu em condições, e ele deu-se conta de que havia relaxamento. Sacou do telemóvel e ditou: tenho de fazer um novo código de costumes, algo que fique para a posteridade e não nos deixe nas mãos de constituições mariconças. A par disso vou então fazer um programa cautelar, ou seja, cada português vai vender uma cautela da lotaria do natal a 4 alemães. No final o pinto da costa faz um sorteio e por coincidência a sorte grande sai a um árbitro da póvoa do varzim que estava a juntar para reforçar a marquise contra os ventos da maresia e que teria prometido 3 penalties ao fócuporto numa fase crítica do campeonato.

Já Nelão Duarte, envergando uma capa de arminho lilás comprada na Benetton, estava a distribuir autógrafos em frente à igreja dos mártires quando é chamado de urgência à barca: havia uma rebelião entre as parelhas, criara-se, na sua ausência, uma facção que queria antes desembarcar em Alcochete e vir tomar a capital pela ponte fairy (ex-vasco da gama), aproveitando para comer um peixinho grelhado.

Vou comer uns chocos fritos e já volto - disse Nelão Duarte à multidão que o aclamava.

A arca de Nelo #2


A arca de nelo está ancorada junto ao mar da palha com vista para a casa dos bicos, onde mme saramaga ainda pensa que estamos todos ceguinhos, e o ambiente no convés é de alguma expectativa: aparentemente portas e passos já foram na enxurrada mas ainda não se percebe se é o momento certo de desembarcar. Inesperadamente aparece um pardal vestido de Wellington a segurar um novo livro de gonçalo m tavares no bico, com o título: ‘pilhagens da minha terra’. Josefa Noémia avisa então Nelo Duarte de que se calhar os ingleses tomaram conta disto para fazerem corridas de galgos. Gera-se alguma consternação entre as parelhas de reserva mas Joana amaral dias, alheia às convulsões, avisa que só vai a terra se estiver garantido que o salão de beleza que lhe estica o cabelo e põe betume na cara ainda está operacional. Nelo acha que está na altura de largar o leme e tomar as rédeas. Reúne toda a tripulação, sobe para uma réplica do cavalo de d. José em gesso, e anuncia: doravante serei proclamado Nelão Duarte e irei tomar conta do País. Os casais que estiverem comigo serão nomeados generais de freguesia. Acabou o tempo do protectorado, das troikalinadas e dos cismas grisalhos, viva a União Platinada. Há lugar para todos: piegas, coninhas, machetes e zorrinhos, desde que chamem de imperatriz à minha josefa noémia. A minha primeira medida será fazer um viaduto sobre o marquês e um túnel entre o barreiro e o cais do Sodré: o povo deve perceber que há alternativas.  Distribuição de kerastase para todos os carecas e push-ups para as mamocas de todas as tábuas de engomar. Quero tudo de cabeça levantada e a encher o peito de ar.

A arca de Nelo


Nelo Duarte depois de ter sido Secretário de Estado da Pachacha social única e dos Medalhões de Vitela foi colocado como embaixador especial do instituto meteorológico na primavera árabe. Após ter sido enrabado na praça Tarhir ao ser confundido com uma jornalista da revista Burda, decidiu mudar completamente de vida e voltar à Pátria para a salvar da revolução em curso que estava a ser conduzida pelos libertários do Termidor orçamental.

O seu principal objectivo era juntar num cacilheiro, especialmente decorado pela omnipresente vasconcelas, um casal de representantes de toda esta gesta da reforma do Estado e Barracas afins, fazendo dela uma grande arca para que depois do dilúvio não se perdesse nada e Portugal voltasse a ser aquele sonho quinhentista que sempre foi e do qual nunca devia ter saído.

O primeiro casal a entrar foi a menina ferreira leite e o escuteiro bagão que tiveram direito a um camarote com vista para a Trafaria e com o rádio sintonizado na rádio renascença. Depois destes devidamente instalados entrou clara ferreira alves com um frasco de água oxigenada e de braço dado com pacheco pereira e que tiveram direito a um beliche duplo com vista para o cristo rei, e paredes meias com o camarote de judite de sousa e marcelo rebelo da mesma. Os vários casais foram subindo para o cacilheiro de forma ordeira e apenas se verificaram algumas escaramuças quando mário crespo se recusou a emparelhar com amélia de rey colaço pela compreensiva razão de que esta já não estava com boas cores.

Como Nelo Duarte era um verdadeiro institucionalista reservou um camarote onde juntou um contador de electricidade  marado com uma via verde a piscar amarelo e outro onde juntou uma constituição da república com dois baralhos de tarot. Chegou a ter uma cegonha da ren a acasalar com o dono dum restaurante chinês, mas o chinês não passou o controlo sanitário, não perdeu tempo e tinha de reserva uma funcionária pública que juntou a um pensionista viúvo de outra encaixando-os num camarote com vista para a rua da betesga. Ana drago conseguiu entrar mascarada de iva da restauração juntamente com marques mendes mascarado de boletim do euromilhões.

Inevitavelmente cada enviado da troika teve de se juntar com uma deputada da maioria e foi muito notada a escolha do careca por aquela moça do psd já entradota mas com uma franja toda janota.

Depois do cacilheiro ter ido fazer um cruzeiro na costa da Somália, Nelo Duarte mais a sua Josefa Noémia, já devidamente coroada de grumeta d’honor, entraram na barra e esperaram que aparecesse a pomba com o raminho de oliveira, o que poderia indiciar que francisco louçã já teria sido empossado de director geral das alfândegas, no entanto, constataram que ainda se estava na fase em que mario soares era o director das Al Pândegas.

(pode ser que ainda continue)

giuseppina

 
pormenor de Josefina do quadro de J-L David

Alice no país das Braguilhas


É evidente que o título pode parecer apenas um chamariz, no entanto hoje vou-vos contar a história de Marilyn Munro, uma sex symbol que fez carreira no competitivo mundo das mulheres fatais através da sua enorme capacidade para criar ilusões nos homens, e deixou uma legião de fans absolutamente arrasados quando decidiu casar com Carroll Higgs, um engatatão escocês que se valia dum talento raro que consistia em conseguir enfiar um protão onde outros apenas – e em sonhos – viam cavernas para aceleradores de platões.

Munro & Higgs rapidamente se transformaram no casal de todas as invejas, e estas atingiram o cume quando foram ambos nomeados nobeles da química pela invenção conjunta da cópula anaeróbica. Ora esta cópula consistia num movimento de ligação molecular em que a mulher recitava sem respirar um acto inteiro do Hamlet enquanto o homem fazia dois big bangs sem tirar nenhum protão do túnel de aceleração.

Tal experiência apenas foi possível pois Marilyn Munro levantava a saia dentro dum túnel de vento e Higgs tinha esfregado os protões em esponjas de coral da ilha de Lampetusa, perdão, Lampedusa.

Quando Higgs fechava a braguilha a fim de resguardar o seu potencial atómico para uma nova fusão de núcleos, Marilyn estirava-se no seu boudoir de veludo verde azeitona e dizia em tom solene: sinto-me uma gata depois de me rebolar num bozão quente.

Munro acabou por contar as suas experiências moleculares num livro com o título do post, o que não a impediu de ser nomeada para o pulitzipper prize, o famoso concurso que premeia as autoras que conseguem fazer uma braguilha abrir-se mais rápido que a fissura dum núcleo de neutrão depois de ser embebido em limoncelo fresquinho.

Como prémio Marilyn Munro recebeu um bozão em formato de coelhinho branco, todo revestido a renda, da autoria da nossa Vasconcelos, e chorou compulsivamente quando Carroll Higgs lhe disse que desde o primeiro dia que a vira que antecipou que seria com ela que o seu protão iria saber o que era o amor de uma mulher.

«Marta, Marta,


andas inquieta e perturbada com muitas coisas; mas uma só é necessária.»

Ao evoluírmos no e pelo tempo – fenómeno também conhecido por idade – dois caminhos nos são oferecidos, por regra: o caminho da intolerância máxima (já não estamos para aturar parvos, damo-nos ao luxo de nos irritarmos ou desprezarmos o que não nos agrada, ficamos com aquilo que chamamos pomposa e um pouco petulantemente, exigência, critério, não admitimos manchas em machetes, nem desatinos em isaltinos ), ou então o caminho da tolerância olímpica (aceitamos tudo como fruta da época, compreendemos os defeitos dos outros, vemos anúncios das telhas Umbelino Monteiro com o mesmo prazer que os anúncios dos perfumes da ralph lauren, e se para um martelo tudo é um prego, para um tolerante tudo é vaselina).

Ambos são caminhos perturbadores, pois ambos nos puxam para o pior de nós, ou seja, ambos nos exigem uma experiência de racionalidade assistida para a qual não estamos talhados.
O único movimento humano no qual podemos encontrar uma certa aproximação da perfeição é indubitavelmente quando gostamos de alguém duma forma irracional. Ou seja, quando tolerar ou exigir não nos trespassam sequer a epiderme.

Hipóteses de remodelação de Ego #5


Vivermos iludidos é uma inevitabilidade. A grande invenção não é o inconsciente mas sim a dita consciência. No fundo, chamamos ilusão aquilo que realmente existe

Desclassificar intelectualmente a realidade é o melhor que fazemos para nos defendermos, dado que temos desvalorizado os sentidos em detrimento do fantasma racional.

Doravante apenas o certo:  tatearei, saborearei, cheirarei, verei e ouvirei. Se me sobrar alguma energia apostarei o resto no reflexo condicionado.

The walking bald-headed


Por detrás de uma grande derrota está sempre a vingança de uma mulher. Armando Cigarra bebeu desse fel quando perdeu as eleições à liderança da freguesia de Miranda do Corno. Depois de ter sido tornada pública a sua separação com Zulmira de Lousa, Armando ficou incapaz de colocar todo o seu carisma na campanha e acabou por se arrastar com os dois pés a prometer insanidades mais próprias dum calceteiro reformado. Enquanto isso, Zulmira, caprichando no seu aspecto de falsa fragilidade, ia-se enriquecendo de companhias várias e distintas, gente de poder e influência, distribuindo insinuantes olés ao seu antigo more than everything, que estava careca de saber que a situação tinha acabado com ele e com as suas ambições. Como não bastasse de humilhação para Armando, Zulmira publica com êxito estrondoso um livro sobre a vida do enigmático padre Cunhal, um missionário que introduziu o cristianismo no Cazaquistão e acabou por morrer de cirrose depois de desinfectar um furúnculo no testículo esquerdo com vodka destilado à pressa.

Ciente do efeito funesto que a separação de Zulmira tinha colocado na sua carreira politica, Armando Cigarra entrega-se a uma vida de bola, bebida y cacahuetes, passando os dias a ver resumos jurássicos do tempo em que o seu, dele, Benfica tinha defesas laterais, pretos em condições, e inclusivamente treinadores que logravam colocar o sujeito discretamente antes do predicado.

Não está devidamente estudado o efeito da vingança feminina na carreira do homem e por isso Armando foi apanhado desprevenido, até talvez empolgado – iludido, claro - com a hipótese de seduzir algum eleitorado que visse nele mais um homem que tinha sabido libertar-se do jugo de uma bela cabra.

Mas Armando não precisaria de ter consultado a sua careca de cristal para saber que não se pode dar as rédeas mediáticas da separação a uma mulher quando se tem uma carreira em risco, tanto mais que a mulher vai ter a tentação de ocupar o seu espaço politico e não poucas vezes verá servida a sua vingança num prato não com a cabeça luzidia do ex-parceiro conubial mas, antes, com esse mesmo cargo politico.

Zulmira de Lousa foi de facto a grande vencedora das eleições em Miranda do Corno e quando Armando Cigarra voltar a fazer relatos de bola ela estará disfrutando dos direitos de autor escolhendo uma freguesia junto ao mar para nas próximas eleições se candidatar, acompanhada ainda dum rapaz de frondosa cabeleira para mostrar ao mundo que nunca mais faria de tabela de bilhar em tempos de austeridade.

O resgate da recepcionista Riana


Simon Werstein era emissário do BCE em troikas e quadrigas várias pela europa fora havia mais de 5 anos. Já estava habituado a esta vida de itinerância e quando casou com Gloria Fuentes, uma mexicana hospedeira da Lufhtansa não se pode dizer que a escolha fosse apenas ditada pelo amor e pelo seu, dela, belo par de pernas e outros apetrechos arredondados ao qual acresciam umas bochechinhas desenhadas por tintoretto numa tarde em que tinha sido soprado pelos querubins do pincel e pelas potestades do carvão.

Naquele dia tinham dormido ambos num hotel em Lisboa, ela fazia escala para Buenos Aires e ele tinha várias reuniões com aquilo que se costuma chamar representantes das autoridades financeiras portuguesas. Enquanto Simon fazia a barba, Gloria já estava na fase final do aperaltamento e ele evitava olhar para gloria et ses jambes para que não desse cabo daquela extraordinária parte do corpo humano que se chama pescoço com um movimento de lâmina mais descuidado. Simon concentrava-se assim nos rácios que lhe iriam tomar conta do dia, mas passava-lhe igualmente pela imaginação o último olhar cândido que Mariana, uma auditora interna dum banco com tendência para a depressão, lhe tinha endereçado na véspera, sem contar com a antevéspera, e inclusivamente outras vésperas atrás, basicamente não havia véspera em que ela não tivesse olhado fixa e apelativamente para ele, quase como se ele fosse uma espécie de spread com pernas e ela uma lobista de pestana.

Gloria de nada se dava conta e já devia estar a entrar com as ancas no cockpit quando Simon dava os últimos retoques na gravata sonhando ora com os olhos melancólicos e cavados de Mariana, ora com uma puta duma soma que não havia maneira de lhe bater certa há mais de uma semana. Os dramas dos emissários são as somas pois com as parcelas eles convivem bem.

Simon era um exímio avaliador de países e era-lhe reconhecido o seu talento por todos. Bastava-lhe uma análise rápida ao movimento de 2 ou 3 indicadores, somado a uma pergunta indiscreta e um dedo colocado bem no centro da virilha de um secretário de estado em vulnerabilidade e fotografava um país sem instagrames. Passava despercebido, almoçava sempre sozinho e lia sempre ao fim da tarde umas páginas dos salmos, algo que aparentemente lhe dava energia para as noitadas que se seguiriam, fossem elas mais com as elevações de glória ou com as fossas de mariana.

Sabendo que carregava consigo uma responsabilidade para a qual ninguém está preparado Simon sentia-se quase uma personagem bíblica passeando na estrada de damasco aguardando visões que o esclarecessem. A ninguém contava estas suas angustias senão a Riana Semedo, recepcionista do hotel onde costumava ficar, que assim se foi tornando numa cassandra da nação, mulher imune a influências e dotada daquela sabedoria de balcão que tudo ouve, tudo cala, tudo compreende e tudo insinua. Afinal a nação não está nas mãos de uma hospedeira de pernas afiadas, nem no olhar deprimido de uma auditora, mas sim nas boquinhas da Riana da recepção.

Hipóteses de remodelação de Ego #4


A duplicidade de personalidade (uma espécie de economia paralela da psique) é um tema recorrente, todos a sentimos e há mesmo quem faça disso modo de vida quando não até de subsistência.

Sermos apenas um só é um luxo - e um risco - que nem os poetas querem correr. Esta multiplicidade encerra no entanto vários problemas de diversa índole, entre eles, e à cabeça, o problema escatológico da salvação, pois desde logo fica a questão: seremos julgados por qual de nós.

Sendo um problema humano ainda com muito por desbravar devemos abordá-lo com a sabedoria dos ignorantes: ir dando a face que estiver mais habituada às bofetadas e guardar sempre uma outra que possa realçar os cremes de beleza.

Doravante terei sempre uma face em estado imaculado para qualquer circunstância.

quatro esquentamentos e um pingo nasal


Filinto Valente tornara-se o psicólogo da crise. Aproveitando as circunstâncias ímpares que proporcionam os momentos de dificuldade dita colectiva, criara um modelo de ‘psique em tempos turbulentos’ e, como não era parvo, tratou de emblogar o tema dando-lhe um aspecto moderno assim entre a literatura e a consulta ao domicílio, que satisfaz um largo espectro de clientela, desde os puros curiosos até às puras menopausadas passando, claro está, pelos próprios neuróticos, que não suportam saber que é a dificuldade que comanda a vida.

Filinto Valente estava ciente que na base do seu sistema tinha de estar um enunciado cativante; era este: todas as nossas neuras individuais participam de uma espécie de neura colectiva; meramente junguiano poderão pensar já alguns, meramente pragmático diz-vos este vosso servidor.

Mas, tal como numa conversa entre porteiras e mulheres a dias não é suficiente um enunciado, há que tirar conclusões e criar potezinhos onde ir encaixando as várias flausinas da vizinhança. Daí que Filinto, à volta do seu enunciado em forma de punchline, tudo levava a crer que definiria uma tipologia e um estilo de abordagem.

Arrumemos a questão do estilo: hermético-estiloso; óbvio, algo que o destacasse imediatamente dos palavrosos (como o machado vaz) ou dos apenas inarráveis (como aquele Eduardo que nem sequer tem mãos de tesoura). A cripticolírica é uma técnica de fácil acesso: citar autores apanhados em googladas em modo shufle, e tirar conclusões como quem deixa a massa no forno. Como nos blogues não se vê a cara, Filinto tinha igualmente de ir dando um ou outro exemplo da sua vasta experiencia pessoal como zorro de inconscientes e ben-hur de cefaleias.

Mas tal não era suficiente para o sucesso, um outro condimento faltava e é tão importante para os psicoterapetas como é importante a serra tico-tico para os bricolásticos: é preciso saber dar uma na compreensão e logo de seguida outra na exigência; e muitas vezes sem tirar.

Falta-me falar da tipologia de Filinto. Esperaram em vão pois Filinto, tinha avisado, não é parvo. Estava escrutinado pelas blogostéricas, não podia correr o risco da contradição, e assim optou pela chamada neura deslizante, ou seja, em momentos de crise isto anda tudo ainda muito mais ligado do que o habitual e, assim, a melhor opção era abordar a neura como um work in progress. Bom para a psique, bom para a audiência, bom para o negócio.

Como achava que dominava a técnica do humor sem fazer rir acabava as consultas em blogoscopia dizendo: olhe, antes isso que uma circuncisão mal feita ou andar sempre a fungar do nariz.


A angústia do guarda décimas no momento do cálculo do PIB


Tibério Lamas aguardava com ansiedade os últimos dados. Dois stands de mercedes, um minimercado em Elvas e uma serração de madeira de Arganil tinham-se atrasado a preencher o inquérito mensal e isso poderia fazer a diferença. Já não lhe bastara o sufoco provocado no dia anterior uma correcção feita pela EDP por causa de um contador estragado em Ponte de Lima e agora este atraso. «Para que décima está a pender?» perguntara-lhe o Dr. Chamusca logo pela manhã - aparentemente o secretário de estado não dormira de noite por causa da úlcera e começara a ligar antes do expediente começar.

Tibério lidava mal com estes momentos em que o algoritmo de cálculo fazia vingar as suas prerrogativas, e até a vírgula que marcava a décima bailava no monitor comandada pelos caprichos dos luciferes da estatística ou da bela Sechat, arrasando-lhe com o músculo levantador das pálpebras, já de si cansado depois da sua, dele, Clotilde ter resistido às suas, dele, iniciativas de arredondamento lúbrico durante mais de 40 minutos bem medidos no relógio despertador, ainda a madrugada soltava as suas primeiras taxas de inflacção.

Estava quase na hora, felizmente tinha sido um bom mês no consumo de bebidas espirituosas, o álcool aparece sempre quando precisamos dele, graças a Deus, e pelo menos uma décima de bónus fora garantida pelos fermentados. Tibério sorriu devotamente e agradeceu como quem carrega o PIB às costas a caminho da Capelinha das Aparições.

Passava das 11 quando o servidor principal ameaçou estar com uma ressaca depois de uma noite dedicada a emborcar taxas de fecundidade, nada fode mais um chip que uma grávida a parir em cima dum fecho de mês. Tudo resolvido pelo meio-dia, já com Tibério a pensar que a puta da décima lhe iria atrasar o almoço de chocos, encomendado de véspera no restaurante da tia Licas, ali ao Arco do Cego. Como cega também deve ser a estatística, dizia de si para si, naqueles momentos de pausa em que se recolhia sob os auspícios dos Deuses da Vírgula.

Tu levas isso demasiado a peito, dizia-lhe vezes sem conta Clotilde, e ele respondia-lhe com um sorriso maroto, tu sabes bem que quando eu estou com a ansiedade da décima os meus apêndices apresentam uma taxa de crescimento superior e toda o húmus familiar beneficia. É a deusa Sechat, já sei, respondia-lhe Clotilde enviando bejinhos com os lábios em forma de barco rabelo.

Era quase uma da tarde quando a vírgula começa a estabilizar e a décima reclina-se sobre o seu dorso, como num desenho de pietá, e toda a economia nacional está no regaço do monitor de Tibério, olhando para ele, suplicando-lhe mais uma casa na esperança de um arredondamento. Carrega nos ombros a esperança duma nação, as ajudas de custo dos enviados da troika, as úlceras dos ministros, e a cona de Clotilde.

Hipóteses de remodelação de Ego #3


Está na ordem do dia – da literatura e da ciência – a manipulação da memória. Nesta moda relevam os minimalismos (decoração tipo cortinado japonês) e os maximalismos (sanefa e folhinhos) tendo como objectivo torná-la o mais inofensiva possível ou mais o mais interventiva possível.

Pondo as técnicas de esquecimento a par das técnicas de lembrança todos teremos a experiência de que controlamos mais as segundas que as primeiras. O segredo de qualquer motor que está ligado às rodas é dominar-lhe o ponto morto.

Doravante lembrar-me-ei sempre de como não aconteceu. Aí sim: quod abundat non nocet.

Hipóteses de remodelação de Ego #2


Por regra-se retira-se mais prazer do perdão do que da acusação. No entanto, a acusação mostra-se mais redentora nos chamados pequenos detalhes da vida. Talvez seja porque por detrás de uma acusação há sempre um perdão, o que nos levaria à omnipresença do perdão, algo que a nossa psique também não pode admitir naquelas suas leis de autossuficiência.

Por outro lado, se somos imperfeitos isso nota-se mais a perdoar do que a acusar, algo estranho a não ser na tal ótica de que a perfeição da acusação deriva da presença implícita dum perdão.

Doravante, nunca mais perdoarei, pois posso estar apenas a servir de apoio a uma qualquer acusação.

Hipóteses de remodelação de Ego #1


Por regra somos sempre mal entendidos. O segredo - prático - está na aproximação. As relações mais perfeitas são as que desvalorizam o entendimento em detrimento do equilíbrio, jogando mais na mecânica que na química, ou então aquelas que optam por definir entendimento casuisticamente, segundo a máxima de não ter princípios demasiado elevados para não ter que estar constantemente a rebaixá-los consoante as circunstâncias.

Claro que existe uma outra categoria, de mais difícil acesso a seres geralmente denominados por humanos, que é a dos que percebem que o entendimento é apenas mais uma das hipóteses retirada dos manuais de lógica e retórica, uma coisa dos livros, uma Kantilena, vá.

Doravante serei compulsivamente desentendido.

Vietnamitas que viveram 40 anos na selva querem voltar

por Lusa, texto publicado por Sofia Fonseca

Os dois homens, pai e filho, que viveram totalmente isolados na selva no centro do Vietname durante mais de quatro décadas não estão a conseguir adaptar-se à civilização e já pediram às autoridades para regressarem à floresta.

Aero-remodelismo


Raul Bilirrubina, o famoso escritor de utopias literárias , nas quais usava o pseudónimo de Cardoso Cuco Castelo, aquando da apresentação do seu último livro disse que se iria dedicar à politica.

A audiência primeiro pensou que se trataria duma blague para chamar a atenção, mas rapidamente percebeu que representava uma decisão séria.

Ao se ter criado um ambiente de alguma surpresa, Cardoso Cuco Castelo, ou melhor Raul Bilirrubina, achou por bem dar mais detalhes sobre o que iria fazer. E eis que revela algo ainda mais inesperado: tinha sido convidado para Ministro das Florestas e preparava-se para aceitar.

Não podemos tomar a árvore pela floresta, relembrou, e como ele ficaria com o pelouro da floresta teria ocasião de olhar para todos os outros e dizer-lhes: «vocês só estão a ver a árvore, deixem comigo que eu vejo a floresta»

A audiência saltava de estupefacção em estupefacção, apesar de não terem chegado a ficar estupefacientes, e agora já nem sabiam se deviam considerar aquilo uma brincadeira, ou uma grande ingenuidade do escritor, ou até uma maior ingenuidade de quem o tivesse, eventualmente, convidado, e no limite até terá havido um ou outro convidado que tenha pensado que ali se revelava finalmente uma qualquer genialidade até aí escondida.

Claro que apareceu logo um brincalhão de serviço que esganiçou o previsível aparte de que todos os guardas florestais iriam ser promovidos a secretários de estado, mas em geral as pessoas entreolhavam-se num silêncio pontilhado daquele típico esgar de lábio em meia-lua e olhos quase arregalados.

Já se estava na fase dos autógrafos quando Cardoso Cuco Castelo, aliás Raúl Bilirrubina, disse a um dos assistentes que era preciso ter cuidado pois se uma andorinha não fazia uma primavera uma árvore já podia fazer uma floresta. Este último, intrigado, perguntou como seria isso? Tudo tem a ver com as sementes, respondeu com algum enigmatismo Cardoso CC, - aliás, bem, já sabem o nome dele - e nesta remodelação pretendeu-se voltar a ver as coisas mais por cima da rama.

O incidente passou, as pessoas também já estavam mais a pensar em ir para casa jantar e assistir aos comentários sobre os novos episódios da nova telenovela Les Irrévocables, mas no final da sessão uma pessoa foi ficando, ficando até só restar ela e o próprio futuro ministro das florestas, os dois especados na sala que nem dois pinheiros preparados para lhes sacarem a resina.

Senhor ministro, acho que lhe poderia ser útil. Como assim, respondeu Cardoso CC, entre o surpreendido e o negligente sem esconder o incomodado. Tenho muita experiência no desbaste e calculo que vai ter muito que desbastar. Talvez, respondeu Cardoso, cofiando um bigode que não tinha há mais de 15 anos, mas ainda não lhe despertando a atenção a ponto de ter desistido de fazer ir fazer uma mijinha - não se esqueça do que tem para me dizer, mas já não aguentava mais; aaahh, ffff.

Aquele momento em que um homem espera que outro mije geralmente é ocupado pelo que espera com pensamentos de registo obscuro, no entanto aquele representante do que restava de uma audiência não perdeu tempo e disse bem alto: veja lá se esse ministério não vai servir para que os outros tenham onde fazer uma mijinha na hora do desbaste de custos.

Cardoso saiu da casa de banho ligeiramente alterado, nada que lhe tivesse perturbado o sempre delicado movimento do fecho éclair mas o suficiente para o colocar em expectativa – o que quer dizer com isso?

Senhor ministro, acho que na remodelação lhe deram esse ministério não por causa daquela lengalenga da árvore e da floresta, mas para terem um sítio qualquer onde os cortes sejam fáceis e naturais de fazer e, pelo sim pelo não, sempre lá podem ir fazer uma mijadela de vez em quando. Diga-lhes só para não mijarem contra o vento.

Uma república acima das nossas possibilidades


D. Duarte Pio – Isabelinha, minha querida, se calhar está na altura de fazermos um golpe de estado

D. Isabel – Senhor, acho que não tenho nada que vestir para uma ocasião dessas

D. Duarte Pio – No estado em que isto está o mais ajustado é um fato-macaco

D. Isabel – Querido, chamam-se jardineiras e já não me servem desde que entrámos para a moeda única

D. Duarte Pio – Tudo te fica bem, minha rainha, desde que não ponhas uma saia muito travada, pois podemos precisar de correr, por mim tudo bem

D. Isabel – Senhor, já mostras a magnanimidade dos grandes estadistas…

D. Duarte Pio – Achas que depois devemos manter o menino passos coelho e os outros como ministros do reino?

D. Isabel – Credo, Senhor, antes chamar a padeira de Aljubarrota e juntá-la com o Miguel de Vasconcelos

D. Duarte Pio – Então e exilamo-los para onde?

D. Isabel – Há aquela ilha das cagarras ….

D. Duarte Pio – Mas essa já está reservada para o senhor doutor anibal…e se lhes pusermos também umas anilhas e os deixarmos ir para casa, assim nem davam despesa?...

D. Isabel – Dava uma imagem de poupança, sim… e o que fazemos com os da troika?

D. Duarte Pio – Então, ao selassié fazemos barão da damaia e aos outros viscondes da bobadela

D. Isabel – E aos mercados?...

D. Duarte Pio – Então, montamos uma Câmara Alta no bolhão e pomo-los lá a perorar com yelds

D. Isabel – Mas isso é que é uma verdadeira mudança de regime, meu Amor, corre-te no sangue o fluido dos grandes reformadores

D. Duarte Pio – Sinto que estive os anos todos a ser preparado para este grande momento

D. Isabel – Mas olha, amor, eu hoje tinha combinado ir aos saldos, achas que podemos fazer o golpe de estado antes amanhã…eu até já teria o guarda-roupa mais adequado e tudo para a restauração 2.0

D. Duarte Pio – Vais ter de fazer sacrifícios, uma rainha tem de pensar primeiro no seu povo…

D. Isabel – Achas que o povo está à frente da minha reputação e tudo?

D. Duarte Pio – Não sei… isso vai ter de ficar definido na nova constituição

D. Isabel – Mas achas que vai ser preciso fazer outra!? Não serviria o catálogo da Redoute?

D. Duarte Pio – Não sei, eles com a república ficaram um bocado esquisitos

D. Isabel – Meus Deus, em que estado é que isto estará… Não seria melhor arranjarmos um regente?

D. Duarte Pio – Sim…e até podíamos deixar tudo como está !, só que passava a ser monarquia e já não eramos responsáveis pelas dívidas da república

Isabel – Amor, tanto talento desperdiçado, mas posso à mesma comprar roupa nova para o golpe de estado, não posso?

Uma salvação acima das nossas possibilidades



Baptista da Silva – olha lá, achas que está na altura de dar mais alguma entrevista?

Capitão Roby – eu noutro dia comi uma gaja que é pivot e meto-te na boa numa mesa redonda

Baptista da Silva – desta vez tinha pensado em dizer que era observador por parte do kremlin

Capitão roby – tem cuidado que eu uma vez comi uma ucraniana com tranças mas fiquei ulcerado no estômago, julgo que estava contaminada

Baptista da Silva – sim, tens razão, se calhar opto por dizer que sou fiscal d’excel

Capitão roby – por acaso noutro dia comi uma miúda em cima dum power point e ela disse-me que eu tinha um outlook fatal

Baptista da Silva – olha, estou a pensar apresentar um estudo que demonstra que há uma correlação directa entre a austeridade e a austeridade

Capitão roby – isso lembra-me uma vez em que eu andava a comer umas gémeas que também trabalhavam em correlação

Baptista da silva – a libido e a economia andam muito ligados…

Captão roby – não me digas…o mais parecido que comi com uma economista foi uma escritora de livros infantis

Baptista da Silva - sim, e na economia também se aprende a controlar os impulsos sob pena de tudo se esvair em superavits precoces...

Capitão roby – aishh... nessa onda o pior que me aconteceu foi numa fase em que andei com a mania da miúda única… passava o tempo com restrições e quando voltei ao mercado reparei que estava muito desvalorizado e nem tinha dado por isso, foi um castigo para voltar a sacar umas miúdas novas

Baptista da Silva – pois é, isso é terrível, eu se calhar vou antes fazer um estudo empírico a demonstrar que o que trama a moeda única é ela ser única, por exemplo, num país com várias moedas únicas acho que esta crise nunca aconteceria

Capitão roby – olha, lembras bem, uma vez andei com umas empíricas suecas e digo-te, nunca chegava a ser necessário arranjar uma teoria para aquilo tal a variedade de resultados, e bons, que se obtinha. Eu sou um apologista fanático do estado social em formato loiro e robusto, detesto escanzeladas, aliás, estou sempre em greve de escanzelo.

Baptista da Silva – eu também gosto muito do estado social, uma vez fiz um estudo para a rádio renascença em que demonstrava que há uma correlação directa entre o nº de terços rezados pelas pessoas juntinhas em Fátima e o número de avé marias produzidos pelo País…

Capitão roby – sim, sim, as religiosas são as melhores, um tipo tem é que lhes levar os filhos à catequese, ouvir uma ou outra ladainha, mas depois são muito certinhas, têm a noção do dever, não sei se estás a perceber?

Baptista da Silva – por isso é que eu já defendi que para nós termos bem a noção do dever, têm é de nos emprestar ainda mais, pois quanto mais devermos mais noção temos, e assim por diante, é logarítmico e tudo, já expliquei isso uma vez numa conferência para prémios nobel da paz que organizei no Porto Brandão

Capitão roby – nem me fales da Porto Brandão, pá, uma vez comi lá uma gajita a julgar que era a angelina joli e afinal era a empregada duma pastelaria na costa da Caparica que tinha perdido o autocarro e sofria de asma e tinha o peito metido para dentro

Baptista da Silva – meu Deus, o mundo é muito dado a confusões, é…, olha que ainda noutro dia estava a dar uma conferência para tipos com problemas de inserção social e depois descobri que aquilo era mesmo o conselho de ministros, e nem foi o tipo do lacinho que me levou lá!

Capitão roby – eu gosto muito de inserção social! Muito mesmo. Sem isso não há salvação. Aliás, só concebo mesmo a sociabilidade em geral num ambiente de inserção em particular.

Baptista da Silva - então se calhar hoje vou mesmo aceitar o estatuto de observador da salvação nacional, vendo bem uma pessoa não se pode estar sempre a expor, não é?

Capitão Roby - discrição acima de tudo, sim, o segredo é a cama do negócio